Situação de “trairagem” ocorrida em 2020 consta em relatório da Polícia Federal

By Rafaela Ferini

A apreensão de 175 quilos de cocaína em um jato executivo em outubro de 2020, em Portugal, quase desbaratou a organização criminosa liderada pelo ex-lobista e empresário Rowles Magalhães Pereira da Silva, preso durante a deflagração da Operação Descobrimento. A droga foi descoberta pela polícia portuguesa, em um avião que fazia regularmente o transporte de drogas do grupo, que tinha como membro ainda o ex-secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Nilton Borgato.

No dia 1º de outubro de 2020, a aeronave PP-SDW, modelo Westwind, fabricado pela Israel Aerospace Industries, foi apreendido no Aeroporto Portela, em Lisboa. Foram encontrados 175 quilos de cocaína no avião, avaliados em €6 milhões de euros. As investigações levaram, posteriormente, à prisão de André Luiz Santiago Eleutério e Leonardo Costa André.

Ambos faziam parte de um grupo que havia se associado a Rowles, Borgato e os outros integrantes do grupo, o empresário Ricardo Agostinho e a doleira Nelma Kodama. A prisão de André e Leonardo faz com que os quatro tentem se afastar dos antigos parceiros e mensagens deixam claro que as apreensões quase respingaram na organização criminosa e o ex-lobista e seu sócio adotaram uma estratégia ousada, segundo o relatório da Polícia Federal.

“O desejo de se afastar do grupo de André é tão grande que o Rowles e Ricardo decidem denunciá-los a Polícia Federal conforme item 3.11 do Relatório de Análise de Polícia Judiciária – Nº 003/2021- GISE/DRE/DRCOR/SR/BA”, diz o relatório. A prisão de André, que era conhecido no grupo como “Careca”, faz com que a organização passe a se associar ao grupo liderado por Marcelo Mendonça de Lemos e Marcos Paulo Lopes Barbosa, sediado em São Paulo e que teria ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Diante dos altos lucros obtidos com a remessa de entorpecente do Brasil para a Europa, o grupo de Rowles, Ricardo Agostinho, Nelma Kodama, Nilton Borgato e outros ainda não identificados, passam a trabalhar com novo grupo vinculado ao tráfico internacional de drogas sediado em São Paulo e liderados, em tese, por Marcelo Mendonça de Lemos e Marcos Paulo Lopes Barbosa. Ambos os grupos são os responsáveis pela remessa do entorpecente localizada no Aeroporto de Salvador, abordo da Aeronave CS-DTP, em 09/02/2021”, diz a PF.

OPERAÇÃO DESCOBRIMENTO

A Operação Descobrimento foi deflagrada pela Polícia Federal no dia 19 de abril deste ano para desbaratar um esquema de envio de drogas de Mato Grosso para Portugal. Ao todo foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.

No país europeu, com o acompanhamento de policiais federais, a polícia portuguesa cumpriu três mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva nas cidades do Porto e Braga. As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador (BA) para abastecimento.

Após apresentar problema em um dos três motores e ser inspecionado por equipes de mecânicos da empresa responsável pela manutenção, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave. A droga era transportada no avião de uma empresa privada ligada ao lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva, que ficou conhecido por denunciar um esquema de propinas nas obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Além dele, também foi preso na operação o ex-secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Nilton Borgato. A partir da apreensão feita em Salvador, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares, que eram responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar a droga, transportadores que cuisavam do voo e doleiros, responsáveis pela movimentação financeira do grupo e lavagem do dinheiro.

Compartilhe esse Artigo